sábado, 12 de maio de 2012

Acupuntura, especialidade médica?

Por Cesar Vanucci * “Lembro-me bem do tempo, não tão distante assim, em que a acupuntura era tida como prática de curandeirismo.” (Antonio Luiz da Costa, professor) Estive a pique, falar verdade, de soltar estardalhante risada. Contive-me pelas implicações dramáticas do episódio na ação profissional de um bocado de gente. Essa decisão recente do Tribunal Regional Federal de Brasília, acatando postulação do Conselho Federal de Medicina, no sentido do reconhecimento de que a prática da Acupuntura só seja facultada a médicos, faça-me o favor, é de deixar arrepiados e estarrecidos todos os profetas esculpidos por Aleijadinho no ádrio da Matriz de Nosso Senhor Bom Jesus de Matozinhos, lá de Congonhas. Quem, como este desajeitado memorialista de lances bizarros do comportamento humano, conserva ainda frescos na lembrança velha de guerra elucidativos registros da aurora dessa prática milenar oriental na vida brasileira, está careca de saber que a acupuntura aflorou por aqui rodeada de pesada carga de desconfianças e suspeitas. Sobretudo por conta das severas restrições terapêuticas estabelecidas em redutos médicos. Não poucos viam-na como um extravagante e herético exercício de curandeirismo, abominável ao olhar crítico da hermenêutica científica. Os vanguardeiros aplicadores dessa técnica alternativa eram olhados de esguelha, em não poucos ambientes. Eram acusados de envolverem com aconselhamento subversivo e anticientífico ingênuos pacientes, espetando-lhes agulhas pelo corpo em excêntricos rituais. E não é que anos depois, bom pedaço de tempo transcorrido, a história começou a ser narrada de modo totalmente diferente! A acupuntura, como era decantado pelos iniciadores da prática, contrariando – repita-se – as alegações dogmáticas de poderosos opositores, “passou” a possuir, sim senhor, propriedades curativas dignas de nota. Já razoavelmente propagada nos hábitos comunitários, atiçou as atenções de setores que faziam questão fechada de menosprezá-la ostensivamente. Daí, para ser incorporada à atuação profissional rotineira desses segmentos antes refratários à sua disseminação foi um passo rápido. Ocorreu, então, de os domínios dessa saudável atividade terapêutica passarem a ser palmilhados, ao mesmo tempo, com evidentes vantagens para a clientela cada dia mais volumosa, pelos terapeutas holísticos responsáveis pela sua introdução na praça, ou seja os acupunturistas da primeira hora, por médicos e por outros profissionais da área da Saúde, com realce para farmacêuticos e psicólogos. De repente, chega a público inesperada proclamação de um desses respeitáveis segmentos. A acupuntura – está sendo esclarecido doutoralmente – permite a utilização de agulhas de vários tamanhos, em áreas nobres do corpo. O profissional que maneja esses instrumentos, precisa dominar com precisão cientifica o que é feito. Conclusão inapelável: só os médicos, ouviu moçada?, mostram-se aptos a elaborar diagnósticos e a fazer tratamento por esse salutar processo. A controversa alegação desaguou, obviamente, em contenda jurídica. O desate surpreendente, sujeito ainda naturalmente a chuvas e trovoadas por força dos recursos legais produzidos pelo compreensível inconformismo dos setores que vêm sendo descerimoniosamente alijados dessa área de atuação profissional, foi a decisão, hilária a mais não poder a considerar os antecedentes históricos narrados, tomada pelos magistrados brasilienses. O ex-presidente do Colégio Brasileiro de Acupuntura, médico Dirceu Sales, tomou da palavra, após a sentença, para explicar que “vamos agora conversar para ver como será a aplicação da decisão judicial”. Adicionou, magnânima e condescendentemente, que “não queremos fazer caça às bruxas ou que consultórios de outras especialidades sejam da noite para o dia fechados”. O vice-presidente do Conselho Federal de Medicina, Carlos Lima, deixou explícito que a decisão judicial representa “um ganho para a saúde, para a segurança do paciente.” Mas não é bem assim que a coisa é vista noutras paragens. Os Conselhos representativos das demais categorias profissionais prometem brigar, com todas as forças, pelo direito de seus membros continuarem compartilhando a “ex-técnica maldita”, segundo o “veredicto” implacável do passado, com os colegas médicos. Taí um tipo de luta que encontra – é fácil comprovar – respaldo pra valer na simpatia popular. Acupuntura, uma especialidade médica? Há sérias controvérsias a esse respeito. * O jornalista Cesar Vanucci ( cantonius1@yahoo.com.br) escreve para o Blog Viva Pernambuco semanalmente.

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